Sertão no meio do redemoinho
espetáculo multimídia para a rua com extratos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa
concepção e direção | Andrea Caruso Saturnino e Ricardo Muniz Fernandes
Projeto foi realizado pelo Sesc SP, em Cordisburgo e São Paulo, em 2009. Uma iniciativa do Instituto Formas em colaboração com a Diagrama Produções. A montagem e os ensaios foram realizados em Cordisburgo, reunindo artistas da cidade, assim como outros provenientes de BH e SP, e em seguida o espetáculo fez uma turnê pela cidade e estado de São Paulo. Maiores informações sobre o processo de montagem, demais parceiros e fotos, acesse Instituto Formas.
1. Apresentação
Sertão no meio do redemoinho abre no cotidiano das praças e ruas das cidades um diálogo com a obra de Guimarães Rosa
A montagem é composta por 16 cenas, com duração aproximada de 15 minutos cada, funcionando como capítulos, partes de um grande quebra-cabeça, interligadas e ao mesmo tempo independentes do todo. Variando de acordo com os tempos, as horas, o andar do mundo e as pessoas que ali vierem e se deixarem ficar – por 1 ou 200 minutos – o espetáculo é como uma passagem pelo rio do pensar, do possível.
Criar e apresentar o “Sertão” é fazer emergir o perceber, o pensar vivo que flui dentro da cabeça de qualquer um. Este projeto propõe um re-aproximar deste mundo, destas veredas. Armar o “circo” na rua, no local da passagem funcional, cotidiana, é criar uma suspensão e dar um descanso à loucura da vida, no cerne desta, inserir uma reflexão no olho do furacão. Compartilhar a experiência do amplo e do aberto da obra, um lugar sem amarras ou limites, que vige dentro de cada um. E chamar os “banglafuméns” que por ali passarem para perceber este algo da vidinha miúda que corre desapercebida.
Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.
Neste redemoinho de um determinado sertão, as pessoas entram nesta máquina Guimarães, de intensidades e perguntas, e saem. Simples, sem respostas. Sertão no meio do redemoinho é qualquer parte – as veredas atravessam a todos que se deixarem permear.
Um trabalho pleno de contradição: determinar sentidos com um autor que opera com a impossibilidade da fixação de um sentido, de um senso. Jogo com as idéias de Guimarães, algumas delas, alguns pedaços de seus sistemas infinitos – usados como bisturis dissecando órgãos , ou facas – afinal estamos jagunços – marcando territórios e estabelecendo a base de alguns sentidos, os caminhos e desenrolar de algumas ideias, sempre de uma forma aberta e ampla, capaz de conter esta miríade e torvelinho que é a obra de Guimarães Rosa. Construir um sertão no meio de um redemoinho.
Este trabalho joga com Guimarães e com nossas cismas. Brinca de como o funcionamento destas máquinas de pensar de Guimarães pertence a cada um. Quer que todos que esta encruzilhada/estrutura cruzarem sejam espelho e interlocutor das engrenagens do autor.
A bem eles se misturam e desmisturam, de acaso, mas cada um é feito um por si. Grande sertão. Se a obra de Guimarães é labirinto, cismar também é.
É preciso coragem, preciso muita coragem para, na obra e no pensamento, neles se perder. Vagar nas suas esquinas, volteios, nos excessos caudalosos da obra e de cada um, que ali entra divaga e se deixa ir, nas dele e nas nossas curvas, devaneios, pedras, lagoas, lembranças, grotas, fundas, nas veredas de um lugar sem porteiras, nos pastos sem fechos de nosso escorrer e pensar. Mirar e ver.
Queremos – será que podemos? Tentamos, será que conseguimos? Vamos oferecer “estropelias” variadas, pra cada um re-descobrir o sertão dentro e fora espalhado no mundo, e seus horizontes abertos e infindos. Os dentros e foras do mundo e de cada um.
Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!
2. Roteiro
3. O Sertão me produz
Na obra de Guimarães Rosa, o sertão transborda de significados. Trata-se de aspecto geográfico, em suas características físicas, de relevo e clima; trata-se de espaço humano, em sua identificação e valor como local comunitário, de vida cultural e econômica; trata-se, ainda, do sertão como acontecimento histórico-literário, emblemático por simbolizar, de maneira ficcional e poética, mas com “poderoso lastro de realidade”, na fala de Antonio Candido, a fratura existente entre dois brasis: o do litoral e o do sertão, da “civilização” e da “cultura primitiva”, das elites e do povo.
A relação sertão-cidade, portanto, está presente de forma sugestiva – posto que “o sertão está em toda parte” -, como desafio ao pensamento, como abertura de percepções e para a ampliação da sensibilidade. Nesse registro situa-se o o projeto SERTÃO NO MEIO DO REDEMOINHO, que traz para diversos espaços citadinos, por meio da teatralização multimídia, o “espaço mágico” da linguagem de Guimarães Rosa.
Ao propor esta atividade, o SESC SP reafirma o investimento em educação e cultura na consideração de que na arte, para além do lúdico, pulsa a totalidade. O que somos hoje, a vida que levamos, os itinerários que percorremos podem ser reavivados e redimensionados, portanto, repensados, a partir da beleza artística, que enriquece a existência e permite compreender melhor a si mesmo.
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do SESC SP
Extratos da obra Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa
Concepção, roteiro e direção | Andrea Caruso Saturnino e Ricardo Muniz Fernandes
Elenco [1ª versão] | Dayana Xavier, Maryana Xavier, José Maria Gonçalves, Toninho Sozinha,
Joana Levi, Guilherme Pam, Jeanne Kieffer, Tiago Goulart | Elenco [2ª versão] | Joana Levi, Dayana Xavier, Maryana Xavier, José Maria Gonçalves, Toninho Sozinha, Juliana Jardim, Paulo Azevedo
Figurinos | Ronaldo Fraga
Triha sonora original | O Grivo [Marcos M. Marcos e Nelson Soares]
Cenário | Argus Caruso Saturnino
Bonecos | Guilherme Pam e Jeanne Keiffer
Criação de vídeos | Roberto Bellini, Sérgio Borges Martins, Cássio Santiago
Produção executiva | Jussara Rahal e Ricardo Frayha
Direção técnica | Julio Cesarini e Alessandre Soares
Técnicos | William Torres, Edinomar Mendonça, Amauri de Amorim, Wanderley W. Da Silva, Flávio José de Oliveiro, Carlos Borges, Fernando Borges Macena
Produção | Diagrama 2 e Instituto Formas
Realização | SESC São Paulo
Apresentações do espetáculo em 2009
01 maio | CORDISBURGO [MG]
SÃO PAULO
dia 03 maio | Virada Cultural – Rua Leôncio de Carvalho
dia 05 maio | Praça da Sé
dia 06 maio | Praça do Patriarca
dia 07 maio | Praça da República
dia 08 maio | Largo Santa Cecília
dia 09 maio | Comunidade de Heliópolis
dia 10 maio | SESC Itaquera
dia 12 maio | Largo 13 de Maio
dia 13 maio | Terminal Rodoviário do Tietê
dia 14 maio | Osasco [Calçadão do Plaza Shopping]
INTERIOR DO ESTADO DE SP
dia 19 maio | Presidente Prudente
dia 20 maio | Birigui
dia 21 maio | São José do Rio Preto
dia 22 maio | Araraquara