Angélica Liddell | ¿Qué haré yo con esta espada?
Foto: Luca del Pia
A essência da criação consiste em transgredir todas as leis que na vida devemos respeitar. A primeira lei de Moisés é NÃO MATARÁS. A origem da tragédia é a transgressão da lei – a desobediência ao cálculo da razão é o que nos pões em contato com a essência das emoções humanas com nosso SER PRIMITIVO. Essa transgressão é a poesia e se desenvolve no espaço do sagrado. O divino é o excesso. A insatisfação é a transcendência. O horror libera. É possível estar de acordo com a ira de Deus quando nos deparamos com as fezes da feiura do mundo? É possível desejar a desaparição do ser humano, é possível abrigar esse desejo na alma humana quando a dor e a desesperança reinam? É possível que, como Édipo, Gesualdo possa esquartejar a sua esposa e amante e ser um homem justo, mágico? Sim, graças à hipermoral da poesia, aquilo que nos situa acima da moral, ou seja, acima do bem e do mal.
Qué haré yo con esta espada é uma aproximação à lei e ao problema da beleza, através da violência, do irracional, confrontando o Estado e a Poesia, pois as regras da poesia não são as mesmas que as regras do estado e a identificação entre umas e outras (como tantas vezes se produz) acaba empobrecendo o espirito, inclusive aniquilando-o. Essa é uma obra que se rebela contra o racionalismo, convertendo-se em um canto ao irracional como fonte das emoções humanas de assombro, temor, de verdadeira vida. Empreendemos uma guerra por nostalgia da beleza, que finalmente, e assim como acontece em Hyperion de Hölderlin, não pode acabar senão em solidão, no incompreensível do infinito, na mesa dos científicos, dos poetas e dos santos. Todos eles, compartilhando a carne com o canibal, por estarem todos imbuídos de CRENÇA. Não de conhecimentos, mas de crenças.
Que haré yo com esta espada é uma viagem de Paris a Tóquio, e de Tóquio a Paris, como uma Eneida delirante, em busca das costas do infinito, do inapreensível, do sagrado, através dos acontecimentos violentos: o crime de Issei Sagawa e a noite de 13 de novembro de 2015 em Paris, canibalismo e terrorismo, como conscientização da própria existência. “A poesia é arrancar subitamente o coração da vida, tal como o índio arranca o coro cabeludo”, disse Thoreau. Tento encontrar a verdade através da violência, seguindo a origem da tragédia de Nietzsche. Esse trabalho nasce do enfrentamento entre a poesia e a lei, o enfrentamento entre a lei do estado e a lei da poesia, o enfrentamento entre a prosa e a lei do arrebatamento do espírito. Como transformar a violência real em poética para nos colocarmos em contato com nossa verdadeira natureza, mediante atos contra a natureza? (Nietzsche). É necessário retomar a origem da tragédia, e só é possível compreender ao homem destruindo-o, quebrando a lei através do belo.
Angélica Liddell
FICHA ARTÍSTICA:
Com: Victoria Aime, Louise Arcangioli, Paola Cabello Schoenmakers, Sarah Cabelo Schoenmakers, Edmilson Cordeiro, Lola Cordón, Marie Delgado Trujillo, Greta Garcia, Masanori Kikuzawa, Angélica Liddell, Gumersindo Puche, Estíbaliz Racionero Balsera, Ichiro Sugae, Kazan Tachimoto e Irie Taira, Lucia Yenes
Coro: Adriana Bernardes, Rita de Cássia, Theo Kardos, Marco Mautav e Paulo Menegon
Texto, direção, cenografia e figurinos: Angélica Liddell
Assistente de direção e chefe de palco: Julio Provencio
Iluminação: Carlos Marquerie e David Benito
Assistente de iluminação: Octavio Gómez
Som e vídeo: Antonio Navarro
Diretor técnico: Marc Bartolo
Produtor: Gumersindo Puche
Assistente de produção e logística: Borja López
Intérpetre japonês-espanhol: Makiko Sese
Tradução de textos japoneses: Yohichi Tajini
Tradução do texto para o protuguês: Beatriz Sayad
Operação de legendas: Tiago Munhoz (Casarini Produções)
Realização da máscara: Carlos Luaces (AlienAlone)
Maquiagem e pintura corporal: Letícia de Carvalho
Construção dos acessórios: Monica Cañete e de Carvalho
Projeto de piso e acessórios no Brasil: Carol Bucek
Produção no Brasil: Performas Produções
Direção de produção: Andrea Caruso Saturnino
Direção técnica: André Boll
Produção executiva: Carol Bucek e Ariane Cuminale
Produção Iaquinandi S.L.
Co-produção Festival d’Avignon
Com o apoiro da Comunidade de Madri et da Fundação Japão, Festival / Tokyo
Com a colaboração de Teatros Canal da Comunidade de Madri
Agradecimentos a Inocencio Arias F.