Roger Bernat | Pendente de voto

Parlamento, ou o lugar do qual se fala. Neste burburinho feito lugar há espaço para toda a fenomenologia do falar: conversa, fofoca, confidência, pregação nas ruas, censura, debate cultural, lição, advertência. Coromonodiálogo. Cores, facções da linguagem. A esta contínua pechincha, que se propaga por todos os interstícios do “lugar do qual se fala”, se deve o feito de que, nos dias de hoje, o debate parlamentar seja, em grande medida, uma ficção, ou a interface mediática de manipulações mais ou menos apaixonadas que tem lugar, todas elas, no estratégico isolamento dos despachos, dos gabinetes, das comissões e das sedes dos partidos.

O “lugar do qual se fala” deveria ser o lugar de “tomar a palavra”. Tomar a palavra do mesmo modo que se conquista a cidade. Sim, como diz Hillman, “política é a prossecução da guerra com outros meios”; tomar a palavra do mesmo modo que se conquista a mente do adversário, sim, como diz Arendt, a essência da política é a capacidade de mudar o curso dos acontecimentos através do discurso, e sim, a política das origens se baseava principalmente no prestígio do dizer.

Na política atual, a função da palavra é não convencer a ninguém enquanto as coisas se transformam movidas por poderes que não são ditos, e que sobretudo não dialogam. Vejamos o que aconteceria se, de repente, na falta de todo poder efetivo, o papel da palavra voltasse a ser aquele estranhamente, originalmente político, de convencer a quem a escuta. Talvez a última praia da política verdadeira se encontre nessa ausência total de poder prático. PENDENTE DE VOTO tenta ser essa última praia. Não mais a versão falsa de um verdadeiro debate parlamentar, mas a versão verdadeira do falso debate vigente. Não mais a ficção da política mas sim a política da ficção: políticos verdadeiros contra os verdadeiros políticos; ou a política verdadeira contra toda forma de realpolitik.

Teatro de imersão? Ou antes, teatro de emersão.

Roberto Fratini

Dramaturgo e Professor de Teoria da dança no Institut del Teatre de Barcelona

Roger Bernat formou-se em direção e dramaturgia pelo Institut del Teatre de Barcelona. É fundador, juntamente com Tomás Aragay,  do Centro de Criação Teatral e Coreográfico General Eléctrica (Barcelona) do qual foi diretor entre 1997 e 2001. Pendente de Voto foi criado em 2012 e passou pela Espanha, Coréia, França, México, Eslovênia, Chile, Inglaterra, Holanda e Áustria. O espetáculo se caracteriza pela relação diferenciada com o público, traço forte do diretor, que se destaca também em suas outras criações: Domínio público (2008), Pura coincidência (2009), A Sagração da Primavera (2010), Please Continue: Hamlet (2011) ou Re.presentation: Numax (2013).

FICHA TÉCNICA
Concepção e direção: Roger Bernat | Dramaturgia: Roberto Fratini | Assistente de direção e direção técnica: Txalo Toloza | Direção musical: Juan Cristobal Saavedra | Iluminação: Ana Rovira | Cenografia: Marie Klara González | Efeitos especiais: Cube.bz | Visualização de dados: Mar Canet | Dispositivos e software de dados: Jaume Nualart | Colaboradores de programação: Pablo Argüello, David Galligani e Chris Hager | Assistentes de conteúdo: Oscar Abril Ascaso e Sonia Andolz | Produção: Helena Febrés Fraylich

Uma produção de Elèctrica Produções (Barcelona), coproduzido pelo Centro Dramático Nacional (Madrid), Fundação Teatre Lliure/Festival NEO junto com Le Manège – Cena Nacional de Reims / Scènes D’Europe e Le Manège de Mons/CECN, TechnocITé no âmbito do projeto Transdigital apoiado pelo programa europeu Interreg IV / com apoio do Ministério de Educação, Cultura e Esporte da Espanha/INAEM e do Institut Ramón Llull