Giramundo
PINOCCHIO
Era uma vez um pedaço de pau
O mais humano dentre os bonecos parece incompreendido. Envolto em nebulosas aventuras, correndo alucinado sob uma chuva infindável, ora fugindo de bandidos, ora buscando desesperado saciar uma fome sem sentido, este personagem misterioso permanece enclausurado, como condenado, na simplicidade colorida das interpretações que o transformaram no mais famoso dos bonecos. Mas, talvez, o Pinocchio de Carlo Collodi ainda surpreenda. Desencravado de uma madeira mágica, passada de mão em mão até a acolhida do velho Gepeto, emerge de um trabalho perfeito, quase um milagre, tornando-se aparição fantasmagórica, fatalmente destinada a agruras, que finaliza seu périplo transformando-se num menino de verdade. A história se completa mas não termina, ao contrário, estilhaça-se nas mil imagens de um caleidoscópio fantástico.
O grupo Giramundo apresenta Pinocchio aproximando-o do homem, interligando as linhas dos bonecos aos fios do destino humano. A ideia de uma máquina onipresente que anima todos os seres vivos perpassa por toda a montagem impregnando a cenografia, a manipulação e trilha sonora. Os bonecos são construídos em variados gêneros, praticamente realizando um resumo técnico dos modos construtivos tradicionais como luva, fio, balcão, tringle, sombra e vara. O vídeo foi incorporado como uma ponte entre o teatro de sombra e a animação em tempo real, abrindo novas possibilidades de investigação a serem experimentadas mais adiante. A trilha sonora de Pinocchio apresenta o sistema 5.1, já presente no cinema, permitindo composição musical que incorpora o espaço como elemento sensorial.
Pinocchio representa a continuidade da trajetória de investigação dos fundamentos e fronteiras do teatro de bonecos marca histórica do grupo Giramundo.
AVENTURAS DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Foto: Marcello Nicolato
Originalmente publicado em 1865, Aventuras de Alice no País das Maravilhas mudou para sempre o curso da literatura, sendo considerada uma das obras mais importantes do gênero nonsense. Na montagem, os bonecos do Giramundo dividem o palco com um ator humano – algo raro nas produções do grupo. Beto Militani interpreta Lewis Carroll, cumprindo o papel de narrador da história de sua autoria. A preparação do ator em cena foi feita pelo diretor e integrante do Grupo Galpão, Eduardo Moreira.
A participação do narrador é uma homenagem a um gênio da literatura, e um dos grandes desafios da montagem foi tentar entender o fantástico e misterioso Charles Dogson, criador de Lewis Carroll. “Além de escritor, Carroll foi matemático, criador de jogos e um revolucionário estudioso da linguagem, habilidades que trouxeram à sua obra uma notável modernidade. Apesar de o texto ser do século 19, o modo e as ideias de Alice ainda são contemporâneas”, destaca Marcos Malafaia, diretor geral do espetáculo.
Aventuras de Alice no País das Maravilhas é o 34o espetáculo da história do Giramundo. Nos últimos anos, o grupo tem produzindo montagens sem segmentar a idade do público. “Não podemos classificar o espetáculo como sendo infantil ou adulto. Cada vez mais, o Giramundo tem criado montagens para toda a família. Independentemente da idade, as cenas conseguem tocar, de forma singular, cada espectador”, defende Beatriz Apocalypse, diretora de Cena e Marionetista – uma das responsáveis por dar vida aos bonecos no palco.
A montagem de Alice consolida a pesquisa e implantação de novas formas artísticas aos espetáculos do Giramundo. Em cena, o teatro de bonecos dialoga com as artes plásticas, vídeo arte e música. Isso porque alguns dos bonecos são digitais, manipulados em tempo real com a tecnologia motion-capture, já utilizada no cinema e rara no teatro de bonecos. Sua proposta consiste em animar um personagem digital, em tempo real, com o uso de “sensores de movimento”, criando a animação do modelo, em vídeo, ao vivo. “O processo de composição de uma montagem com tantos intercâmbios foi o maior desafio da produção”, destaca Marcos Malafaia.
Alice POP
Um dos charmes da montagem de Aventuras de Alice no País das Maravilhas é a música, composta e executada por John Ulhoa e Fernanda Takai, do Pato Fu. A história clássica ganha um tom contemporâneo junto à energia acústica de guitarra, baixo, bateria e efeitos eletrônicos. Vinte e sete músicas foram compostas e, no futuro, podem se transformar em um CD com a trilha sonora do espetáculo.
A parceria entre o Giramundo e os dois começou com a produção do show Música de Brinquedo, do Pato Fu. Após a turnê, sucesso em todo o país, a direção do grupo e John Ulhoa iniciaram uma intensa troca de e-mails. Debates incansáveis sobre o papel de cada personagem na trama e o impacto da música em cada cena fizeram com que a produção da trilha sonora fosse tão desafiadora (e divertida) quanto a própria montagem. “O texto de Lewis Carroll se aproxima em muitos sentidos do rock’n’roll, em sua emoção, em seu espírito rebelde, nos jogos de palavras e numa permanente busca de liberdade, portanto, Alice soa muito bem cravejada de guitarras”, afirma Marcos Malafaia.
O rock também está presente nas vozes durante todo o espetáculo. Fernanda Takai empresta seu timbre inconfundível à dublagem de Alice. Já a voz do Chapeleiro Maluco é interpretada por Arnaldo Baptista, do Mutantes.
A montagem é o resultado de três anos de trabalho, marca dos 40 anos do Grupo, celebrados em 2010. A viabilização do projeto só foi possível graças ao patrocínio da Petrobras, por meio do Petrobras Cultural, e Lei Federal de Incentivo à Cultura.
ficha técnica
texto original | lewis carroll
direção geral e roteiro adaptado | marcos malafaia
música original | john ulhoa e fernanda takai
direção de cena | beatriz apocalypse e marcos malafaia
design de bonecos | sandra bianchi e beatriz apocalypse
figurino atores e bonecos | maria do céu, beatriz apocalypse e weracy trindade
cenografia | marcos malafaia, daniel bowie e glauber apicela,
luz | ricardo da mata
supervisão de projeções | ulisses tavares
motion capture e projeção mapeada | lucas cancela
supervisão de construção de bonecos | madu, beatriz apocalypse e eduardo felix
preparação de ator e revisão dramatúrgica | eduardo moreira
assistência de direção | endira drumond, ana fagundes e daniel mendonça [trilha]
marionetistas | beatriz apocalypse, ana fagundes, endira drumond, fabíola rosa, bárbara andalécio, kadu dos anjos, mário apocalypse
ator | beto militani
produção | beatriz apocalypse, ricardo malafaia e patrícia albuquerque
produção são paulo | andrea caruso saturnino / performas produções
Acesse: www.giramundo.org